segunda-feira, 6 de junho de 2016

SURGIMENTO DA UMBANDA

           
O SURGIMENTO DA UMBANDA
O Movimento Umbandista teve seu início no dia 15 de novembro de 1908. Ocorreu no BRASIL, no Bairro de Neves, na época, pertencente ao Município de Niterói, RJ. 
Para falar melhor deste acontecimento, é necessária algumas explicações e definições, como por exemplo: 
- Quem foi Zélio Fernandino de Morais? 
Foi por intermédio do Sr. Zélio, então com dezessete anos na época, nascido em família tradicional católica, que se manifestou pela primeira vez a entidade que se denominou Caboclo das Sete Encruzilhadas. 
Zélio foi acometido por uma inexplicável paralisia, sem explicação plausível para a medicina. Certo dia, ergueu-se da cama dizendo: “Amanhã estarei curado!” 
De fato, foi o que ocorreu no dia seguinte: levantou-se normalmente e começou a andar, como se nada lhe houvesse acontecido. 
Um amigo da família, sabendo do ocorrido, sugeriu uma visita à Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro, (na época sediada em niterói e presidida pelo Sr. José de Souza). E assim foi feito... 
No dia 15 de novembro o jovem Zélio foi convidado a participar da sessão. O Dirigente dos trabalhos espirituais determinou que ocupasse um lugar à mesa. Tomado por uma força estranha e superior a sua vontade, contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, o jovem levantou-se dizendo: Aqui está faltando uma flor – e saiu da sala indo ao jardim, voltando logo depois com uma flor, (uma rosa branca), que depositou no centro da mesa. Essa atitude insólita causou quase um tumulto. Restabelecidos os trabalhos, manifestaram- se espíritos que se diziam de pretos escravos e de índios; foram convidados a se retirarem, advertidos do seu estado de atraso espiritual. Novamente um força estranha dominou o jovem Zélio e ele falou, sem saber o que dizia. Ouvia apenas a sua própria voz perguntar o motivo que levava os dirigentes dos trabalhos a não aceitarem a comunicação desses Espíritos e por que eram considerados atrasados apenas pela diferença de cor, da classe social que revelavam. Seguiu-se um diálogo acalorado, e os responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e afastar o Espírito desconhecido, que desenvolvia uma argumentação segura. 
Um dos médiuns videntes perguntou: Por que o irmão fala nesses termos pretendendo que a direção aceite a manifestação de Espíritos que pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados são declaradamente atrasados? - Por que fala desse modo, se estou vendo que me dirijo, neste momento, a um jesuíta e sua veste branca reflete uma aura de luz? - E qual é o seu nome meu Irmão? 
Então o Espírito que utilizava o jovem Zélio como canal passou a responder: - Se julgam atrasados os Espíritos dos pretos e dos índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho para dar início a um culto em que esses pretos e esses índios poderão dar sua mensagem, e assim cumprir a missão que o Plano Espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber o meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim. – Julga o Irmão que alguém irá assistir ao seu culto? – Perguntou com certa ironia o médium vidente. – Cada colina de Niterói atuará como porta voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei. 
No dia seguinte, 16 de novembro de 1908, toda a família de Zélio, inclusive ele próprio, estavam apavorados. 
Nem ele mesmo sabia explicar o que se passava. Estava surpreso em haver dialogado com aqueles austeros senhores de cabeça branca, em volta de uma mesa onde se praticava um trabalho para ele desconhecido. 
Como poderia aos 17 anos organizar um Culto? No entanto, ele mesmo falava sem saber o que dizia e porque dizia. Era uma sensação estranha. Uma força superior que lhe impelia a fazer e dizer o que nem sequer se passava pelo seu pensamento. E no dia seguinte, em casa de sua família, na Rua Floriano Peixoto nº 30, em Neves, Niterói, ao se aproximar da hora marcada – 20 horas – já se reuniam os membros da Federação Espírita, seguramente para comprovar a veracidade do que fora declarado na véspera; os parentes mais chegados, amigos, vizinhos e do lado de fora grande número de desconhecidos. 
Às 20 horas, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que se iniciava, naquele momento, um novo Culto em que Espíritos dos velhos africanos, que haviam servido com escravos e que desencarnados não encontravam campo de ação nos remanescentes das seitas negras e os índios nativos da nossa terra, poderiam trabalhar em benefício dos seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social. A prática da caridade no sentido do Amor Fraterno seria a característica principal desse Culto, que teria por base o Evangelho de Jesus e como Mestre Supremo o Cristo. 
O Caboclo estabeleceu as normas em que processaria o Culto. Sessões – assim se chamariam os períodos de Trabalho Espiritual – diárias, dás 20 às 22 horas: os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito. Deu também um nome a esse movimento religioso que se iniciava, disse primeiro Allabanda, mas considerando que não soava bem a sua vibração substituiu-se por Aumbanda e mais tarde por Umbanda, palavra de origem Sânscrita. A casa de trabalhos espirituais que no momento se fundava recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim com Maria acolhe o filho nos braços, também seriam acolhidos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto. Ditadas as bases do Culto, após responder em Latim e Alemão às perguntas dos sacerdotes ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou à parte prática dos trabalhos, curando enfermos, fazendo andar aleijados. Antes do término da sessão manifestou-se um Preto-Velho, Pai Antônio, que vinha completar as curas. 
Nos dias seguintes, verdadeira romaria formou-se na Rua Floriano Peixoto. Enfermos, cegos, paralíticos vinham em busca de cura e ali a encontravam, em Nome de Jesus. Médiuns, cuja manifestação mediúnica fora considerada loucura, deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades excepcionais. 
Testemunhas que presenciavam o fato contam que médicos dos sanatórios mandavam a relação de seus doentes e a entidade, incorporada em Zélio apontava as que eram portadoras de perturbações psíquicas: - Estes, eu posso curar – e os acolhia na residência do médium. Os outros eram realmente enfermos mentais; a cura competia à medicina. 
Se a prática dos trabalhos maravilhava a todos e as curas de obsedados se repetiam diariamente, a doutrina do culto era estruturada em reuniões semanais, às quintas-feiras, na residência de Zélio. O Caboclo das Sete Encruzilhadas explicava os seus conceitos de fraternidade e de humildade, lembrava as passagens principais do Evangelho, recomendava o procedimento correto na vida material, o cuidado indispensável com a saúde, as normas de moral elevada e o “ daí de graça o que de graça recebeste”. Dizia Ele: são três os perigos que ameaçam o médium: a vaidade, a consulente mulher o médium homem e vice-versa: e o dinheiro, a vil moeda que leva o homem a perder o caráter, e o médium que mercantilizar a sua missão, a faltar aos compromissos com o Mundo Superior. 
Embora não seguindo a carreira militar a que se destinava, pois sua missão mediúnica não o permitiu, Zélio nunca fez profissão da mediunidade. Trabalhava para o sustento de sua família e diversas vezes contribuiu financeiramente para manter os templos que o Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou. 
Ministros, Industriais e Militares que recorriam ao poder mediúnico de Zélio para a cura de parentes enfermos e os viam recuperados, procuravam retribuir o benefício através de presentes ou preenchendo cheques vultuosos. – “ Não os aceite!!! Devolva-os!! ! – “ ordenava sempre o Caboclo. E Zélio podia dizer de cabeça erguida: “ Nunca recebi um centavo pelas curas praticadas pelos guias. O Caboclo abominava a retribuição monetária ao trabalho mediúnico. Não há ninguém que possa dizer que retribuiu a uma cura com dinheiro e foram curas aos milhares. Retribuíam, isto sim, com sua fé, ajudando ao Trabalho do Caboclo e de Pai Antônio, como cambonos ou assumindo a Direção Material dos Templos fundados, ou participando da corrente mediúnica, quando tinham condições para isto.” 
Dez anos após a fundação da Tenda Nossa senhora da Piedade, registrada com o nome de Tenda Espírita, porque não era permitido na época o registro de uma entidade com a especificação de Umbanda, o Caboclo das Sete Encruzilhadas declarou que se iniciava a segunda parte de sua missão: a criação de sete Templos, que seriam o núcleo do qual se propagaria a Religião de Umbanda. Os Dirigentes recebiam esclarecimentos nas aulas de quinta-feira e na Tenda da Piedade preparavam-se grupos que iriam formar os novos Templos. 
Assim, sucessivamente as sete Tendas foram fundadas, a saber: Tenda Nossa Senhora da Conceição, Tenda Nossa Senhora da Guia, Tenda Santa Bárbara, Tenda São Pedro, Tenda Oxalá, Tenda São Jorge e Tenda São Jerônimo. Dezenas de Tendas foram fundadas sob a orientação do Caboclo das Sete Encruzilhadas no Estado do Rio, em São Paulo , em Minas Gerais , no Espírito Santo, no Rio Grande do Sul. Sempre que possível o médium Zélio participava da instalação das novas Tendas. Quando o trabalho material não o permitia, enviava médiuns capacitados para organizar e dirigir a nova Casa. 
Em todo Território Brasileiro existem Templos fundados diretamente pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas ou descendentes deste. Alguns desvirtuaram- se de seus princípios, outros mantém-se fiéis as normas iniciais. 
Em 1939, o Caboclo determinou que se funda-se uma Federação para congregar os Templos Umbandistas e que deveria ser o Núcleo Central desse Culto, em que o simples uniforme branco de algodão dos médiuns estabelecia a igualdade de classes e a simplicidade do ritual permitia dedicar integralmente o tempo das sessões ao atendimento dos necessitados. O ritual preconizado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas excluiu tudo o que de supérfulo. São palavras textuais de Zélio Fernandino de Morais: - “ O Caboclo das Sete Encruzilhadas nunca determinou o sacrifício de aves e animais, quer para homenagear entidades, quer para fortificar a minha mediunidade! !!” 
Nas sessões apenas os cânticos muitos firmes e ritimados para incorporação dos guias e a manutenção da corrente vibratória. O uniforme é branco, de tecido simples, as guias usadas são apenas as que determinam a entidade que se manifesta. Os banhos de ervas, os amacis, as concentrações nos ambientes da natureza, a par do ensinamento a base do Evangelho, constituem os principais elementos de preparação de médium. São severos os testes que levam a considerar o médium apto a cumprir sua missão mediúnica. 
A tarefa que sobre os seus ombros tomou o Caboclo das Sete Encruzilhadas – Organizar a Lei de Umbanda no Brasil – é um verdadeiro milagre de fé e nos leva a um sentimento de profundo respeito por essa Entidade que se fez pequena e procura velar-se sob a capa de uma humildade perfeita. É a Ele que se deve a purificação dos trabalhos nos terreiros. Não veio para destruir o ritual e sim dar-lhe força e método. Manter sua pureza e propagá-lo com sua organização maravilhosa. O que nós todos lhe devemos é inestimável, jamais poderemos retribuir os benefícios espalhados por Ele e pelos Espíritos que acorreram ao seu chamado. 
Esta mensagem que agora passamos a citar, foi gravada em 1971 por ocasião do Sexagésimo Terceiro Aniversário da Tenda Nossa Senhora da Piedade: 
A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade, e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda, médiuns que vão se vender e que serão, mais tarde, expulsos como Jesus expulsou os vendilhões do Templo. O perigo do médium homem é a consulente mulher , o da médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas Casas fazem que toque algumacoisa ao coração da mulher que fala ao Pai de Terreiro, como ao coração do homem que fala à Mãe de Terreiro. É preciso ter muito cuidado e haver moral para que a Umbanda progrida. 
Umbanda é humildade, amor e caridade - essa é a nossa bandeira. Neste momento meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxóssi, de Ogum, de Xangô. Este que vos fala , porém é da falange de Oxóssi, meu Pai, e não veio por acaso, trouxe uma Ordem, uma Missão. 
Meus Irmãos, sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, pois as vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham baixar entre vós, é preciso que os aparelhos sejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas Casas de Umbanda. 
Meus Irmãos, este aparelho já esta velho com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que pela sua mediunidade eu pudesse implantar a nossa Umbanda. 
A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que saíram desta Casa. 
Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao Planeta Terra na humilde manjedoura, não foi por acaso, assim o Pai determinou, podia ter procurado a Casa de um Potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser a sua Mãe, esse Espírito que viria a traçar à Humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade. 
Que o nascimento de Jesus, a humildade em que Ele baixou à Terra, a Estrela que iluminou aquele estábulo, sirvam de exemplos, iluminando os vossos espíritos , tirando os escuros de maldade por pensamento, por práticas e ações, que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares. 
Fechai os olhos para a Casa do vizinho, fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja, não julgueis para não serdes julgados, acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar, é dos Evangelhos. 
Eu, meus Irmãos, como o menor Espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que ao sairdes deste Templo de caridade encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados e a saúde para sempre em vossa matéria. 
Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e serei sempre o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas.” 
Zélio Fernandino de Moraes retornou ao plano espiritual no dia 3 de outubro de 1975, contando com 84 anos de idade e 67 de sua mediunidade positiva e caridosa junto ao Espírito amigo do Caboclo das sete Encruzilhadas. Paz e Luz ao seu Espírito amigo, tolerante e humilde. Deus te abençoe Querido Irmão!!! 
Portanto que a Umbanda não é Candomblé. A Umbanda não é Espiritismo. A Umbanda é a Umbanda. 
São religiões distintas, que possuem sua própria dinâmica, ritos, cantos litúrgicos e particularidades. 


A língua falada na Umbanda é o Português, pois é a língua oficial brasileira, portanto, a língua que falamos. A Umbanda é brasileira!

Nenhum comentário:

Postar um comentário