Para muitos batuqueiros isto é um mito, ou um
assunto que realmente não se comenta, mas quem é do meio sabe que não é
realmente desta forma que acontece.
Quase sempre no dia posterior ao batuque sempre
nos reunimos em uma rodinha com filhos e amigos para comentar o mesmo, as
pessoas em questão e os santos que se manifestaram na festa, então de fato
é um assunto que se comenta. Mas quando se faz algumas
perguntas básicas sobre o mesmo, daí temos perguntas sem respostas ou
mesmo respostas categóricas.
A pergunta que não quer calar: Porque as pessoas não podem saber
que se ocupam? Que o santo chega! Que é cavalo de santo!
Cada casa, cada pai ou mãe de santo conta uma história e quando não sabem
ao menos uma história são categóricos em dizer: não pode e pronto não
pergunta mais!
No candomblé a pessoa é escolhida pelo santo, o mesmo então
anuncia sua chegada através dos búzios e assim o babalorixá recepciona o
mesmo com parlamentos e glorias dada ao santo, e não a pessoa.
A pessoa é uma escolhida, ou seja, uma iluminada pelo orixá, digna
da chegada do mesmo, é informada disso sem problema nenhum, pelo contrario,
isso é uma honra!
Em nossa Nação Rio Grandense, o santo é tratado também como uma divindade
de luz maior e poder absoluto, porém as pessoas não se portam com
humildade perante aos mesmos, claro que nem todas agem assim, mas uma
grande porcentagem age desta forma egoísta.
Para explicar um pouco mais sobre este assunto temos que voltar um pouco
no tempo e buscar a pureza que nossa religião era á um tempo atrás, e que
hoje resta muito pouco.
Os antigos acreditavam que a chegada de um santo na terra era
motivo de festa e os adoravam como se fosse Desuses o que realmente são.
As possessões dada de um santo ao individuo era total, ou seja, a pessoa
realmente entrava em transe profundo e absoluto, sem controle nenhum de
seus movimentos e ações feitas no ritual, essa manifestação era muito
forte ao ponto de ter certos cuidados para que ao subir ou for embora, a
pessoa pudesse voltar ao seu estado normal sem nenhum prejuízo físico ou
psicológico, e muitos não sabiam o que tinha acontecido, ou mesmo que
tinham se ocupado de santo.
O cuidado era maior, a devoção era maior, o respeito era total e a veracidade
da possessão era plena, pois o santo conseguia mudar o relógio da
percepção da pessoa ocupada e ela simplesmente não se dava conta que havia
sido tomada pela força de seu orixá independente do tempo que ele ficava em seu
corpo.
O segredo surgiu pelo respeito que as pessoas tinham pelo orixá
que se manifestava de forma bruta e suave ao mesmo tempo, mostrando veracidade
nas palavras, danças e gestos feitos no ritual.
Os próprios orixás em possessão nos aparelhos pediam aos filhos e pessoas
envolvidas nos rituais que não contassem suas chegadas, visando manter a
fé e a devoção da pessoa escolhida.
A obrigação de nação consiste em ligações: Ocutá, casa do santo representando
a natureza, Ferramentas, armas do mesmo para defesa simbolizando a
matéria, o Axorô, sangue de animal, simbolizando vida sacrifício, Ori,
cabeça da pessoa , simbolizando a vida de quem vai se guiar, cuidar e
trabalhar a partir daquele momento.
A confirmação maior de todas essas ligações é dada, quando o orixá
em questão manifesta na pessoa em obrigação.
Mesmo o fato não acontecendo não nos permite dizer que a obrigação
não houve resposta ou não foi confirmada, na verdade existem também outras formas
de saber se a obrigação foi bem aceita pelo orixá e se vai beneficiar a
pessoa em questão. Ex: Búzios.
Mas voltando ao assunto inicial, os orixás no mundo já pediam que
não divulgassem suas chegadas, por que sabiam que de uma forma ou de outra,
isso afetaria em médio ou em longo prazo a fé das pessoas manifestadas do
mesmo.
E para continuar chegando e dando seus Axés a todos, precisa de um aparelho,
corpo limpo.
O corpo limpo para orixá não se trata de sujeira material, mas sim
de sujeira espiritual aquela que afeta sua fé.
A fé é a crença naquilo que não se vê e não se tem como provar,
mas sentimos de alguma forma e isso faz com que as coisas se tornem menos difícil.
Acreditar na obrigação pura, nas ligações que compõem uma
obrigação, nos rituais que fazem parte da mesma, sem querer ou desejar ser
o santo, mas sim cultuá-lo, isso é ter fé, isso é ter o corpo limpo para uma
aproximação maior do orixá na pessoa.
Não se pode divulgar isso, por que simplesmente o fato de saber
que se ocupa afetará de imediato a pureza estabelecida pelo santo para
então fazer sua chegada.
As conseqüências de uma pessoa que fica sabendo que se ocupa são obvia,
tem haver com o fato de enlouquecer, por que uma pessoa sem fé é uma
pessoa sem rumo, sem direção, perdida no meio do povo sem saber em quem
confiar e abandonada.
A pessoa que conta, também terá o mesmo destino, por que se trata
de uma pessoa impura no meio, e terá as conseqüências, não com a morte, mas
com o abandono dos orixás sobre sua vida por que contribuiu para destruição
de uma fé pura que mantinha o orixá na terra para dar sua benção.
O assunto é sério, e temos muita gente agindo desta maneira,
pessoas não instruídas, não preparadas para religião e que mesmo assim
acabam por se tornar lideres religiosos e ensinar erradamente seus seguidores.
Precisamos nos atualizar, mas não devemos esquecer nossos
princípios e nossas raízes deveram sempre ser respeitadas e cultuar os
orixás da mesma forma que se cultuava antigamente, afinal quem mudou foi
nós e não eles.
Hoje os batuques não são mais como eram antigamente, mas os santos ainda
são os mesmos, se estão mais bonitos foi por que o pai de santo o
doutrinou assim desta forma, se este mais bem vestido foi por que a pessoa
investiu no melhor tecido, se esta apagadinho, é porque criamos expectativas
conforme a roupa, se não nos surpreende mais, é por que hoje somos mais
exigentes, mas acredite o santo ainda é o mesmo.
Avalie seu comportamento nos batuque e veja quem mudou!
Antes o santo quando chegava era aplaudido ou no mínimo louvado
com sua saudação, e isso se dava independentemente de trajes ou nomes, mas pelo
simples fato da chegada.
Faziam filas e mais filas de pessoas para tomar axé com o santo, quando
partia as pessoas se emocionavam com a saída do santo, suas palavras eram
esperadas com fervor e podiam ser qualquer coisa: saúde, prosperidade,
paz, amor, união. Acatávamos com toda fé do mundo,adorávamos um batuque.
Na hora da foriba, aplaudíamos o ritual, era lindo, bebíamos o
atâ, comiam a canja, e o amalá tudo era com muito respeito, esperava-mos a hora
da canjica era sagrada.
A balança era o ponto alto do batuque quem não participava queria
ver de todo jeito, a reza do Alá, dançar para iemanjá era motivo de honra.
Tinha uma época que ninguém podia sair antes do ecó do batuque era errado
podia atrair coisas ruins e muitos tinham o compromisso de ficar até o
fim, e quem viesse no primeiro batuque tinha por obrigação comparecer no
segundo.
Quem mudou?
O que mudou?
Não importa forma que é feito, como são apresentados, de que
maneira dançam a roupa que não brilha as rezas que não danço as pessoas
que não gosto, as comidas que não como, a marca de refrigerante que não bebo
o banco duro que estou sentado, o fulano que é mais paparicado.
O que de fato faço eu aqui, no meio de tanta gente, mas sou eu muito
diferente?
Gosto ou sou obrigado?
Sorrio mas não estou feliz?
Acredito só se me provarem!
É esse tipo de atitude
descompensada e sem nexo que produzem os JOIO que temos hoje, e ensinam
história sem fundamentos sobre ocupação, por que ao explicar a verdade
atiriam em seus próprios pés.
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