AS
LAGRIMAS DE UM PAI DE SANTO
O dia nasceu com todo seu esplendor, o sol
brilhante como sempre irradiando seus raios e aquecendo toda a terra. Aquele
pai de santo levantar mais uma vez para cumprir com a missão que os divinos
orixás haviam lhe dado mesmo antes de seu reencarne.
Caminhou pela rua, rumo ao seu trabalho, seu
coração doía muito, sentiu medo, pois pensou estar doente, sentia-se
indisposto. Seu dia transcorreu normalmente, mas aquela angustia teimava em
passar. Ao final do dia dirigiu-se ao seu refugio, o templo sagrado, La chegando
cumpriu com suas obrigações saudou suas forças e firmezas e entrou. No silencio
do templo, mais uma vez ele olhou para o altar sagrado daquele templo, seus
olhos já marejaram e ele sabia que as lagrimas cairiam mais uma vez.
Caminhou confiante até a frente do altar, bateu
cabeça as divindades pedindo-lhes a benção, ajoelhou-se e começou sua oração: “
Amado senhor Deus, eis aqui de joelhos vosso filho, amado pai mais uma vez
venho a vossa divina presença clamar pelos meus semelhantes, somos todos muito
pequeninos ainda para compreender seus caminhos pai. Acalenta meu coração que
chora por também não ser compreendido nos ensinamentos que tu me deste através
das divindades da Umbanda sagrada, amado pai”.
Enquanto orava seus olhos derramavam lagrimas
sentidas lavando seu coração de pai. Quando terminou sua oração que durou não
se sabe quanto tempo ele sentiu atrás de si uma presença, ele se virou e viu um
ser enorme parado a sua frente, o saudou reverente e manteve-se de joelhos.
- Salve guardião?
- Salve baba! O que o trás aqui divino
guardião?
- Você me trás aqui baba! Eu?
- Mas eu não o chamei guardião.
- Como não. Não estava ai choramingando suas
magoas?
- Quem é você guardião?
- Não aprendeste ainda que nomes é o que menos
importa baba? Sou apenas um servo de nosso criador amparando todos os que a ele
recorrem em suas angustias e não sou seu senhor. Porque você esta ai jogado no
chão choramingando feito uma criança baba?
- Não estou jogado no chão e não estava
choramingando meu senhor. Já disse que não sou seu senhor, sou apenas um
guardião e servo estou aqui para servir e não para ser servido. Guardião, eu
apenas estava deixando meu coração falar e vós esta sendo muito duro comigo.
- Duro eu? Você deve estar brincando, você esta
ai se achando o ultimo dos babas, um desvalido espiritual, quando todas as
força se convergem para você. Fica ai ajoelhado chorando quando sabes que suas
lagrimas não resolverão os problemas que tem enfrentado, é de pé que um filho
dos divinos orixás luta, é de cabeça erguida que um filho dos divinos orixás
caminha.
- Mas guardião não é fácil ver as pessoas
jogando fora os ensinamentos dados pelo amor de Olorun, muito me entristece
quando vejo que quanto mais amo meus filhos mais incompreendido eu sou, quanto
mais quero os ajudar mais parece que atrapalho suas vidas, quanto mais sorrisos
distribuo mais olhares de revolta recebo, em minha posição muitas vezes tenho
que tomar atitudes que vão de encontro aos anseios da coletividade e assim
fazendo vou contra anseios particulares dos que comigo caminham.
- É baba tanto já caminhaste e ainda não
aprendeste nada, se caminham contigo devem obedecer as ordens dadas por ti e
não questioná-las, só aprende quem já esta pronto para a lição,só ajudamos
aqueles que a lei determina que estão prontos para tal, se você distribui
sorriso e recebe olhares maldosos é porque seus filhos ainda carregam no
coração as impurezas de uma alma pecadora passível de dor e sofrimento, baba
nunca ouviste que um discípulo não deve procurar um mestre, que quando ele
estiver pronto o mestre aparecera. Você foi preparado para suportar a
ingratidão, não venha chorar suas magoas para mim que não darei ouvidos, pois
estou aqui em nome da lei divina para abrir seus olhos quanto aos trabalhos a
serem realizados por ti.
- Guardião, eu sei que assumi perante meus
regentes a missão de conduzir os filhos de Olorun para a luz do saber sagrado,
mas eles não querem ver a luz.
- Claro que não querem. Quem que vive por tanto tempo na escuridão vai
querer ver a luz que os cegara? Assim são os que chegam até você baba seres que
viviam escondidos na escuridão e que começam a divisar a luz de nosso criador,
mas esta mesma luz os cega e então querem fugir novamente para as trevas, só
que para isso precisam se desvencilhar de ti, ai é que vem os ataques e você
vem até o altar divino derramar suas lagrimas quando deveria estar lutando para
que os trevosos não conseguissem tomar de ti os filhos amados que Olorun
confiou a ti.
- Divino guardião sinto que as força me faltam,
afinal também sou um ser humano e muitas vezes me canso de tanto lutar e só ver
derrotas, vejo e vi já muita coisa e a história se repete, os filhos vão se
unido e travando uma batalha coma s desavenças e eu como pai de todos fico no
meio deste fogo cruzado tentando salvar a ambos.
- Baba, deixe que lutem ate a exaustão e quando
não tiverem mais força, quando já tiverem perdido até a dignidade La estará
você forte e pronto para levantá-los, pois nesta luta não haverá vencedor.
Aquela baba continuava de joelhos e seus olhos
ainda vertiam lagrimas e a cada palavra do divino guardião seu peito apertava e
doía ainda mais.
- Baba, levante-se, enxugue estas lagrimas,
pois não compactuo nem me condôo, portanto sabes que és o que és e o que eu
precisas fazer, os divinos estão contigo e sempre estarão, mostre aos seus filhos
que em todos os lugares existem lideres para serem seguidos, seja na luz ou nas
trevas, és um guardião dos mistérios do divino criador, portanto não quero
vê-lo no chão nunca mais, não perco meu tempo.
Aquele
guardião sacou de sua espada sagrada a serviço da lei maior e tocou a testa do
baba que estava se levantando, ao sentir o toque da espada aquele baba viu
varias encarnações das quais muitas conseguiu cumprir sua missão e muitas
outras em que falhara, justamente por dar ouvidos as pessoas que queriam voltar
a viver nas trevas da ignorância. Sentiu como que o fogo divino queimasse toda
sua alma, foi purificado mais uma vez. Quando abriu os olhos estava sozinho
novamente em pé, diante do altar. Ele olhou fixamente em todas as imagens
representativas saldou-as e disse:
- “Sagrados orixás de Umbanda, que este baba
seja um instrumento da lei maior e da justiça divina, faça de mim e em mim
valer com que eu possa conduzir todos os que queiram ser conduzidos, que os que
eu conduzir aprendam a obedecer as lei divinas e terrenas.
Amados orixás que aqueles que quiserem voltar a
viver nas trevas, eu saiba o momento de soltar minha mão, pois que caia sozinho
aquele que quer cair.”
Ajoelhou-se, bateu cabeça reverente, beijou o
solo sagrado do templo e dirigiu-se para seu lar, onde esposa e filho o
aguardavam com muito amor.
Texto muito lindo.
ResponderExcluirSó faltou os créditos do autor.
Texto de Pai Vladmir do Oxossi Recebido em 2006