Mediunidade
de Transporte
A mediunidade de
transporte – em alguns casos também chamada de descarrego – é uma mediunidade
que ou caiu em desuso nos terreiros ou é bem mal-explicada e trabalhada. Alguns
referenciam que o cambone é um médium de transporte nato, pelo simples fato do
mesmo doar energia ectoplasmática durante as sessões ou giras de Umbanda. Porém
isso está incorreto.
O cambone tem sim
um papel de extrema importância e pode – geralmente o faz – doar ectoplasma
para os guias que ali estão para que os mesmos manipulem em prol do assistido.
Veja, o ectoplasma aqui citado é a energia vital em excesso. Jamais será tirado
algo que fará mal para o indivíduo e também sem a concordância deste. Quando se
aceita ser cambone, tacitamente se “assina” esse tipo de contrato de doação
energética. Porém, a mediunidade de transporte é bem distinta, apesar de
utilizar-se do princípio do ectoplasma também.
Sabemos que o ser
humano não é constituído apenas de matéria, dentro das tradições orientais mais
populares, nos é dito que possuímos sete corpos: Atma (espírito), Búdico,
Mental Superior, Mental Inferior, Corpo Astral (Espiritual), Duplo-Etéreo e
Material. Dentro da classificação espírita, Kardec sintetizou os corpos Búdico,
Mental Superior e Inferior, o Corpo Astral e o Duplo-Etéreo em um só denominado
Perispírito, deixando a sua definição assim: Espírito, Perispírito e Matéria.
Ele simplificou a estrutura energética do ser humano, mas sem desqualificar a
sua essência.
Dentre esses
corpos, o que podemos denotar é que ao desencarnar perdemos dois deles:
Duplo-Etéreo e o Material. Apesar do Duplo-Etéreo ser um corpo invisível a olho
nú, ele ainda é em parte material e será desagregado após o desencarne, depois
de aproximadamente 48 à 72 horas. Isso pode variar, conforme o apego a matéria
ou a espiritualização do indivíduo.
Em muitos casos os
espíritos obsessores ou negativados (desequilibrados, desarmonizados e alguns
até mesmo sem saber que estão mortos), acabam interferindo na vida material das
pessoas. Trazendo perturbações de ordem espiritual, manifestações fenomênicas,
etc. Alguns, precisam se nutrir da energia da vida (duplo-etéreo) para lembrar
como era na matéria. Outros tantos, acabam simplesmente por obsedar pela
maldade e pela vingança. Seja qual for o caso, o espírito em desequilíbrio ou
em embrutecimento consciencial, acaba se esquecendo de certas particularidades
da vida material. Nesses casos, quando alguns procedimentos falharam é que
entra o médium de transporte. O médium cederá seu instrumento mediúnico, para
que um espírito embrutecido ou desequilibrado possa “incorporar” e tomar um
CHOQUE anímico. Ou seja, ele irá sentir as dificuldades e restrições da matéria
e em alguns casos isso é o suficiente para colocar determinadas entidades nos
trilhos novamente.
Existe até dentro
dos tratamentos de passes dos centros espíritas o passe chamado Choque Anímico
(CH). Que tem o mesmo princípio, vitalizar o ser desencarnado para que ele
lembre-se de como é estar aqui, em uma terra de expiação.
Logo após o
trabalho do médium de transporte, o espírito é então retirado do campo
mediúnico do mesmo e levado para as zonas de recuperação, pelas falanges que
cuidarão do espírito agora em estado de choque ou ao menos temeroso.
Hoje em dia,
muitos dizem que esse tipo de artifício não é mais necessário, pois evoluímos e
não precisamos mais utilizar dessa mediunidade. Outros, acabam por dizer, que é
necessário, mas que qualquer pessoa pode se tornar um desses tipos de médium de
transporte e pode fazê-lo. Ambos, na minha visão estão enganados.
A mediunidade de
transporte ainda é necessária, mas assim como era no passado, os casos em que
ela é necessária são escassos. Não é regular fazer transporte em TODAS as giras
e sessões e também não é qualquer um que pode doar a sua matéria para esse tipo
de atividade. Os mais antigos da tradição umbandista, chamavam esses médiuns de
médiuns de descarrego ou médiuns de Exus, pois tratavam todos os espíritos em
desequilíbrios, negativos, negativados, etc. como espíritos de exus catiços.
Existem pessoas que tem uma certa “vitalidade espiritual” diferente, mais
abundante, que são os ideais para esse tipo de trabalho.
Com essa mania das
novas Umbandas de que todos são médiuns, seja de incorporação ou de transporte,
estão criando verdadeiros casos de obsessões complexas e até mesmo coletivas
nos terreiros. Pessoas que acabam perdendo a sua própria vitalidade, sua
energia vital, entrando em colapso nervoso, psicológico, emocional e até mesmo
manifestando desordens físicas. Em outros casos, o terreiro inteiro acaba sendo
desvitalizado e perdendo a força! Quantas vezes não ouvimos dizer que
determinado terreiro era bom, mas que de uns tempos pra cá parece que ficou
fraco? Que os pedidos e ajudas não são mais atendidas? Inúmeros!
Então, médium de
transporte (ou de descarrego ou de exu) é um indivíduo com uma constituição
físico-espiritual diferente, que passará por um processo de aprendizado e
saberá utilizar da melhor maneira possível sua mediunidade sem que está lhe
traga prejuízos em sua vida cotidiana ou a sua saúde.
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