quarta-feira, 4 de abril de 2018

RELATOS DE MARIA MULAMBO


RELATOS DE MARIA MULAMBO

            Certo dia estava eu em terra, e veio um rabo-de-saia falar comigo e me disse essas palavras: 
- “Eu quero que você tire ela da vida dele, quero ele pra mim e quero que você acabe com ela”.
Eu, Maria Mulambo, apenas gargalhei. Não satisfeita, a mulher me disse:
- “Te dou ouro, rosas, bebidas, roupas... lhe dou o que você pedir”.
Pacientemente, olhei para ela e disse:
- “Moça, olha dentro dos meus olhos e não desvie o olhar. Eu me chamo Maria Mulambo, você sabe quem eu sou e o que eu significo? Você me pediu isso tudo e a minha resposta para você é apenas uma: desejo que você tenha amor, pois vejo que você não sabe o que isso significa. Não quero seu ouro, não quero bebidas, não quero rosas, não quero nada. Vou lhe ensinar a ter amor, não ódio. Você está na escuridão e a maldade está lhe cegando. Olhe para mim, moça... Tenha amor pela sua vida, você não tem o direito de obrigar ninguém a permanecer ao seu lado, muito menos pedir para acabar com a vida de outro”.
Não satisfeita, a mulher zombou da minha cara, disse que eu era fraca, que eu não era uma Pombo-Gira de verdade. Apenas gargalhei novamente e disse:
- “Moça, eu só posso lhe oferecer esclarecimento, o que você precisa é de amor, se amar...
A mulher virou as costas e foi embora. Um belo tempo se passou. Realizando minhas rondas pela madrugada, eu avisto aquela mulher jogada no chão, sendo sugada por espíritos obscuros. Mal sabia ela que tinha feito o desencarne, porém, achava que ainda estava viva. Olhei pra ela e disse:
- “Moça, levante. Você lembra de mim?
Ela olhou e não acreditou no que viu e me perguntou: 
- “O que você está fazendo aqui? Saia de perto, eu não quero você aqui, você não me ajudou!
Eu novamente olhei dentro dos olhos dela e disse:
- “Moça, olhe ao seu redor. Lembra do que você me pediu e eu não fiz? Você procurou uma legião de espíritos menos evoluídos e eles fizeram o que você pediu, mas olha como você se encontra agora: esses quiumbas se alimentam do mal que você pediu quando viva. Lembra que eu disse que era de amor que você precisava? Lembra quando você me disse que eu não era Pombo-Gira? Então, hoje eu vim lhe resgatar desse umbral, dessa lama na qual você se enfiou. Moça, acorda. Já faz trinta anos que você se encontra cega pela escuridão e acha que ainda está viva”.
A moça parecia não acreditar que eu iria resgatá-la, foi quando eu disse:
- “Esse é o verdadeiro papel de uma Pombo-Gira: resgatar quem se encontra na escuridão e não matar ou separar casais. Ahhhh, moça... Se tivesse me escutado quando eu falei para se amar, pois o amor liberta...Venha comigo, moça, chegou a hora de reparar o mal que você tanto fez àquele casal”.
Só se perde na escuridão quem nunca encontrou o caminho do amor!

Laroyê, Maria Mulambo!
Laroyê toda a sua Falange!

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