O MÉDIUM PODE PERDER SUAS FACULDADES?
"- Isso acontece com
frequência, qualquer que seja o gênero da faculdade. Mas quase sempre, também,
não passa de uma interrupção momentânea, que cessa com a causa que a
produziu." O Livro dos Médiuns - Allan Kardec (Cap. XVII, questão 220).
Qualquer médium pode ter
a ostensividade mediúnica suspensa temporariamente, ou mesmo em definitivo, a
depender das suas condiçôes físicas e morais. Geralmente, os motivos que o
obrigam à inatividade na mesa, pois a mediunidade pode ser exercitada em atos
fraternos exteriores à sala mediúnica, são os seguintes:
- Problemas de saúde.
- Mau uso da faculdade.
- Obsessão.
- O teste da perseverança.
- Parada para reflexão.
- Inacessibilidade ao centro espírita.
Problemas de saúde. A
mediunidade requer, como qualquer outra atividade, um organismo sadio para o
seu desempenho. Mentes frágeis e impressionáveis, corpos sem vitalidade
geralmente não se adaptam à mesa dos trabalhos, por exigir esta que o
intermediário, na sua atuação de enfermeiro, doe do seu fluido vital, ao mesmo
tempo. que suporte a carga emocional de quem o busca. Mediunidade é esforço e
sacrifício.
Aquele que, por sua
debilidade, não consegue empreender o esforço e, por sua constituição orgânica
não suporta o sacrifício, é levado a uma suspensão temporária ou definitiva até
que se recupere. Se a debilidade orgânica é causada por qualquer tipo de
desregramento, a suspensão toma o caráter de punição, pois o operador tornou-se
não-confiável, invertendo-se a sua posição de enfermeiro a paciente, como
mandam as regras disciplinares.
Mau uso da faculdade. Se
o medianeiro não consegue atuar orientando-se pelos postulados espíritas e
evangélicos, se menospreza as virtudes fazendo culto à irresponsabilidade e
cobiça, vulgarizando a sua faculdade em intercâmbio incompatível com as regras
do bem, seu anjo guandião e seus amigos, que tudo fizeram para orientá-lo,
podem decidir por uma suspensão da faculdade ou por deixá-la permanecer a
serviço dos seus interesses, em conluio com seus sequazes, para que ele decida,
pelas dores que trará a si, por um retorno às trilhas da dignidade. Ocorre, às
vezes, que o médium sofre a suspensáo da mediunidade e, por orgulho ou
interesse, passa a mistificar dizendo-se porta-voz dos Espíritos via mediunidade
ostensiva, quando na realidade encena, praticando o simples mediunismo não
ostensivo a que todos nos vinculamos. Nesse caso, ele é apenas um farsante e
como tal deve ser tratado.
Obsessão. Pode
ocorrer que o médium, em plena atividade na casa espírita, venha, por
invigiláncia, a tornar-se vítima de um obsessor. Isso é tão comum que tenho
assistido a muitos eventos dessa natureza. Como a regra geral é o médium
obsidiado náo dar passividade, este afasta-se dos trabalhos, permanecendo,
quando a obsessão não lhe privou da lucidez nem da vitalidade, na subcorrente,
sob a orientação do doutrinador e dos Espíritos amigos. O período de tempo em
que a suspensão persiste varia conforme a gravidade do caso.
Uma trabalhadora em
exercício mediúnico ativo vinculada a nossa casa espírita reencontrou
antiga rival desencarnada, que passou a assediá-la, dando origem a violento
processo obsessivo, o qual determinou a suspensão da mediunidade por dois anos
seguidos. Superado o processo, voltou à atividade normal, com mais eficiência e
responsabilidade. Em se tratando de obsessões, nem o tempo na doutrina, nem o
cargo ou função são capazes de livrar o seareiro de tal tropeço; apenas a sua
autoridade moral o fará.
O teste da
perseverança. Perseverança quer dizer persistência. Quem não se decide por
um caminho ou ideal, quem é portador de idéias flutuantes, ou seja, o que
vacila e muda conforme os ventos, não está apto ao exercício mediúnico. O
Evangelho é claro: "Sim, sim ; não, não; tomar o arado e não olhar para
trás; fidelidade no pouco e no muito". Não se é espírita quando se duvida
da espiritualidade. Não se é médium quando se é incerto na mediunidade. Pode
suceder, então, ao aprendiz vacilante, menos assíduo, apático, cheio de
questionamentos acerca da sua própria faculdade, que uma suspensão, para que
estude e se defina como espírita, seja uma necessidade. O retorno da faculdade
condiciona-se, então, à sua afirmação, dado que, para o exercício de qualquer
função cuja especificidade seja definida, se exige que o operador seja
qualificado e treinado no serviço.
Parada para reflexão. Às
vezes, o médium surpreende-se diante de problemas financeiros, domésticos,
emocionais, que lhe tiram a paz íntima, necessária ao desempenho da
mediunidade. Como auxiliar o que sofre, se no momento ele parece sofrer mais?
Como demonstrar fortaleza, se a fragilidade é por demais ostensiva? É o
divórcio que lhe bate à porta. É a viuvez, o desemprego, o desencarne do filho,
os acidentes a que todos estamos sujeitos em um mundo de dor. Os mentores espirituais,
usando de benevolência, promovem a suspensão temporária, para que ele reflita
e, depois, com a ajuda de todos, encarnados e desencarnados, volte ao estado
harmônico exigido ao seu mister. A volta ao trabalho nessas circunstâncias
sempre se constitui em tônico revigorante para o Espírito, visto ser o trabalho
o antídoto do desespero.
Inacessibilidade ao
centro espírita. Não raro, o seareiro da mediunidade é transferido a
locais onde ainda não existe uma casa espírita. Sendo o exercício mediúnico facilitado
pelo ambiente indutor do centro espírita, quando deste nos afastamos a
faculdade mediúnica parece adormecer. Em tais ocasiões, o médium não deve
abater-se mas continuar a cultivar a sua faculdade através do esfôrço renovador
para com os sofredores. Caso este companheiro não encontre no novo ambiente
pessoas atinadas com o seu ideal, para que seja criado um grupo espírita, só
lhe resta esperar e batalhar por outra remoção, o que com certeza terá o aval
dos amigos da espiritualidade.
Em todas as situações descritas, o médium jamais
estará abandonado, seja o seu caso perda ou suspensão da mediunidade. O que
interessa aos Bons Espíritos é o retorno do pupilo e o seu conseqüente
desempenho, no que são empreendidos todos os esforços. Quando não for possível
a reabilitação do trabalhador, este sempre possui o crédito da caridade de seus
benfeitores espirituais, que jamais é negada, nem mesmo a quem se torna
implacável perseguidor daquele que o beneficia.
Luiz G. Pinheiro
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