Símbolos Secretos das Bruxas da Islândia
(No sentido horário a partir do canto superior esquerdo) 1. Draumstafir – para sonhar com desejos ainda não realizados, 2. Svefnthorn – coloca-se sobre o travesseiro de alguém para o fazer dormir, 3. Óttastafur – para colocar medo em um inimigo, 4. Lukkustafir – má sorte ou prejuízo não virá a qualquer um usá-lo. Fonte: O Manuscrito Huld
Grimórios e
livros secretos de feitiços sempre tiveram o poder de exaltar a imaginação. De
ocultistas vitorianos a fãs de Harry Potter, um livro empoeirado cheio de
símbolos estranhos é uma descoberta rara e maravilhosa. Uma série de achados da
Islândia foi recentemente publicado e possui muitos “símbolos” que são agora
bem conhecidos entre os fãs da tradição nórdica. Mas eles são realmente
Vikings? E o que esses livros nos dizem sobre as pessoas que os escreveram?
Bruxaria
Islandesa
O Galdrakver,
traduzido livremente como “pequeno livro mágico”, datado de 1670.
A fim de
compreender os símbolos islandeses, precisamos de olhar para a sua utilização
no seio da sociedade da Islândia.
A maioria dos
símbolos e feitiços parecem ser para o uso em problemas simples da vida, desde
a captura de um ladrão, até derrubar um inimigo. Outros ajudam a curar o gado,
enquanto outros foram feitos para amaldiçoar os animais de outrem. Vemos também
encantos para ajudar a preservar alimentos e cerveja, símbolos para abençoar o
portador com força ou coragem, ou símbolos para ajudar com a pesca ou impedir a
morte por afogamento.
Tudo isto pinta
um retrato da vida na Islândia do século XVII. Com longos invernos escuros,
pouca terra arável para culturas e mares gelados, a vida aqui era implacável. A
sorte parecia brincar com seu papel na sociedade, e os habitantes fariam o
possível para influenciar suas próprias fortunas. Em tempos de fome, vizinhos
seriam tentados a roubar uns dos outros, e as disputas geralmente acabavam de
forma violenta. A reputação e a capacidade de intimidar parece ter sido um
fator importante para a sobrevivência, e muitos símbolos foram criados para
permitir que o portador pudesse fazer isso ou lançar de volta negatividade
sobre seu oponente declarado. Foi uma época de muita superstição.
A bruxaria foi
usada por alguns em segredo como “remédios populares” para uma situação
particular, enquanto outros praticavam mais abertamente, às vezes cobrando por
seus serviços. Ao utilizar estes símbolos místicos, um indivíduo sentia que era
capaz de controlar e influenciar a sua situação sem confronto direto.
A Origem dos
símbolos
O símbolo
chamado “Ægishjálmur” ou “Elmo do Terror”, tirado do Galdrakver
É difícil
apontar a data precisa em que os símbolos foram desenvolvidos.
Os manuscritos
mais antigos datam do século XVII, com os outros sendo um pouco mais jovens.
Pensa-se que estes volumes registraram símbolos e fórmulas utilizadas ao redor
da Islândia por uma linhagem de determinada família, ou dentro de uma certa
região. Assim, a sua utilização pode ter sido muito mais velha do que os
próprios manuscritos.
Os símbolos
parecem ser desenhados usando runas escandinavas e símbolos medievais tardios e
símbolos ocultos renascentistas. Eles são, pelo menos, influenciados por
encantos posteriores utilizados na Europa continental. Alguns até mesmo parecem
ser influenciados por símbolos cabalísticos. Alguns encantos que acompanham
certos símbolos mencionam os antigos deuses nórdicos tal como Odin e Thor,
enquanto outros mencionam Salomão e Cristo. O sistema parece ser uma
interessante mistura de crenças mágicas antigas e novas, de uma forma
semelhante a como os anglo-saxões misturaram suas práticas com o cristianismo
em ritos, como o Aecerblot que está registrado no Exeter Book que tem origem no
século X. Durante estes períodos de transição, Odin ainda foi clamado ou
mencionado, mas seu papel havia deixado de ser o de Alföðr (Pai de todos) para
a figura de um feiticeiro. O Deus cristão tinha tomado o lugar do Pai dos
homens na terra, com os Deuses Antigos sendo empurrados para um lugar onde eles
só foram invocados pelos supersticiosos ou “magos negros”.
O Manuscrito
Huld [1] contém várias páginas no início do tomo com tabelas de runas gravadas.
Isso mostra os vários estilos de runas que às vezes eram personalizadas pelo
mago, que nos ajuda a reconhecer o surgimento delas dentro de símbolos mágicos
(stave symbols) islandeses. Parece que muitos símbolos (staves) são feitos de
moldes destas runas que ampliam os efeitos do símbolo (symbol). Outros símbolos
parecem não ter qualquer padrão lógico por trás de sua forma, e é provável que
foram criados por meio de “tentativa e erro” pelos magos ao longo dos anos.
Tabela de runas
correlacionanda com o alfabeto moderno, encontrado na parte da frente do
Manuscrito Huld.
Os Julgamentos
das Bruxas
Entre os séculos
XIV e XVII, as bruxas eram caçadas minuciosamente e julgadas e punidas por suas
artes de feitiçaria. Curiosamente, ao contrário da Europa continental, a
maioria dos bruxos islandeses que foram executados eram do sexo masculino;
queimando na fogueira como punição. As mulheres foram afogadas.
Como tantos
outros exemplos de histeria e amargura, que atingiu o auge durante esses tempos
de perseguição, acusações de feitiçaria pareciam ser uma ferramenta poderosa
para se livrar dos inimigos e melhorar a sua própria situação. Um desses contos
sugere uma superstição maníaca, ou possivelmente uma vingança pessoal contra
uma família.
Em 1656, em
Kirkjuból (agora conhecido como Ísafjörður), um pastor chamado Jón Magnússon
estava sofrendo de problemas de saúde e outros infortúnios. Ele acusou dois
membros de sua congregação de feitiçaria contra ele. Os acusados eram pai e
filho, ambos chamados Jón Jónsson, que cantavam no coro da igreja. Depois de
ser interrogado, o pai confessou ter usado magia contra o pastor e ter um livro
de magia em sua posse. Jón Jónsson júnior confessou atacar a saúde do pastor, e
de usar Fretrúner contra uma menina. O último foi um símbolo que fez a tal
peidar constantemente. Longe de ser uma piada, ele tinha a intenção de humilhar
e causar terrível desconforto abdominal. Os dois foram considerados culpados e
foram queimados na fogueira. Pastor Jón Magnússon foi premiado com todas as
propriedades dos Jónsson, mas depois acusou a filha de Jón Jónsson sênior (irmã
de Jón Jónsson júnior) de bruxaria, uma vez que sua saúde ainda continuava má.
Thuridur Jónsdóttir foi julgada e não foi considerada culpada. Ela fez um então
um processo contra o Pastor e ganhou. Em compensação, ela foi premiada com os
pertences do Pastor [3].
A magia popular
passou à clandestinidade, e tornou-se oculta. Alguns registros que existem dos
símbolos, as respectivas utilizações e outras práticas mágicas dos islandeses
foram feitos pelos tribunais durante esses julgamentos. Ironicamente, é esta
atitude que preservou alguns dos antigos costumes para o presente. Sem serem
arquivados, eles simplesmente seriam esquecidos ou teriam morrido com seus
praticantes.
Mantendo-se em
concordância com as tradições islandesas que estava naufragando em sombras, o
manuscrito “Huld” significa literalmente o manuscrito “escondido”. As pessoas
que praticavam também desapareceram de forma sensível.
Esta página do
Manuscrito Huld apresenta na parte superior esquerda, o “Vegvísir”.
Significando “sinal de direção”, crê-se que ajudar a orientar o usuário através
de mau tempo, sem perder o seu caminho. O símbolo tornou-se bastante popular
recentemente.
Renascimento no
Século XX
Foi só no século
passado que se tornou mais seguro explorar as práticas de magia popular na
Europa e na Escandinávia. Embora ainda desaprovada como superstição e absurdo,
os símbolos islandeses têm tido um aumento na popularidade, particularmente
dentro descendentes de colonos americanos nórdicos e também heathens.
Os símbolos têm
sido tema de livros por recentes autores esotéricos. Edred Thorsson foi
fundamental na ascenção destes símbolos em sua edição atual do “Galdrabok”.
Outros que figuram entre os tomos arcanos incluem “Aegishjalmur”, de Michael
Kelly.
Muitos dos
símbolos são utilizados em arte e decoração de louças, enquanto algumas pessoas
tornaram a tê-los tatuados em seus corpos. A cantora e compositora islandesa
Björk tem o símbolo Vegvísir tatuado em um dos braços.
Os símbolos
islandeses têm evoluído ao longo dos séculos, e enquanto certamente
incorporaram runas nórdicas, eles não podem ser considerados exclusivamente da
cultura “Viking”, uma vez que eles são influenciados por outras práticas
esotéricas do continente europeu e de além dele.